14 de outubro de 2010

do livro MARCA D'ÁGUA - Contos de Amor e Morte (2009)

Sinal Fechado

            - Porque faz isso comigo? – indaga Marisa, sentada no banco de passageiro.
            - Porque te amo. – responde Danilo, no volante do carro, parados em um sinal fechado.
            - Sabe que sinto por você algo especial, mas não é amor.
            - Sei disso, mas sou teimoso, te amo muito e não quero te perder.
            - Vamos ter que parar por aqui, não posso mais lhe ver, o Ronaldo está desconfiado. Você não devia ter me enviado flores no meu aniversário.
            - Não posso esconder meus sentimentos por você, não posso ficar fugindo daquele cara se eu te amo.
            - Se ele souber, ele te mata.
            - Mata nada.
            - Danilo, me leve para casa. Você tem que parar com isto.
            - Não posso. Você é o ar que respiro. Você é minha vida...
            - Posso ser sua morte.
            - Não pode fazer isto comigo, você me conhece a mais tempo do de aquele canalha.
            - Não fale isso dele, eu o amo... E vou me casar com ele.
            - Como pode gostar de um cara como ele. Ele é um grosso, nunca lhe tratou bem. Nunca lhe tratou como merece.
            - Não é bem assim, ele é muito carinhoso e muito legal. Minha mãe gosta muito dele...
            - Sua mãe. Pensei que era você que ia casar com ele. Estou falando de você, olhe para você. Você é linda, doce, como pode ficar com ele.
            - Chega Danilo, já falamos o bastante a respeito deste assunto. Chega!
            - Você foge porque tem medo de reconhecer que me ama.
            - Não te amo. Nunca te amei.
            - Vai dizer que nunca sentiu nada naqueles beijos que te dei, você ficou toda arrepiada.
            - Não é nada disso, e que você, sei lá...
            - Ta vendo, você me ama e não sabe. Aquele dia no mercado em que andamos abraçadinhos, você não sentiu nada, eu te imaginava como minha mulher.
            - Ta bom teve alguns momentos meio esquisitos, mas não é amor.
            - Esquisitos??? Você só pode estar debochando de mim.
            - Chega. Isto não vai levar a nada. É melhor parar por aqui, eu não quero mais te ver, me leve para casa.
            - Ok! Você está desistindo tão fácil. Vou te esquecer. Prometo-te isto, vou te esquecer.
            Um silêncio incômodo apenas quebrado pelo barulho dos carros do lado de fora, se instala entre os dois, alguns segundos antes do sinal abrir, um garoto de uns quinze anos se aproxima e bate no vidro do motorista com uma arma, faz sinal para que Danilo abaixe o vidro. Danilo em um ato súbito de desespero e fuga tenta acelerar o carro e cruzar a avenida, por alguns segundos um estampido ecoa dentro do carro, Danilo cai debruçado sobre o volante em um simples e único suspiro. Marisa grita desesperadamente por seu nome, mas já é tarde, apenas um corpo fica debruçado sobre o painel esboçando um leve sorriso, enquanto Marisa chora e pede socorro enquanto diz:
            - Eu te amo muito! Não me deixe aqui. Danilo eu te amo... Por favor, Danilo... Eu te amo...
            Sons de sirenes e buzinas de carro se confundem e cobrem a voz embargada de Marisa, que apoiada por outros motoristas se afasta relutante do carro tendo apenas a visão de seu amor morto dentro dele. Uma confusão de dor e agonia, seus olhos buscam em outras pessoas o olhar de esperança, vê apenas gestos tímidos de aceitação.

3 comentários:

  1. Uma realidade
    Quantas mulheres acomodadas feito Marisa estão ignorando a linguagem explicitas nas sensações e reações de seu corpo, em cada toque,em cada gesto.
    Restando por fim a suplica e a certeza do verdadeiro amor no momento da perda.

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  2. Que pena que isso realmente acontece no nosso cotidiano. As pessoas tem medo de se envolver, ao invés disso, escondem seus sentimentos atraz de respostas vazias como as de Marisa. Ela teria sido tão + feliz se tivesse desistido de um casamento conveniente e se deixada guiar por seus sentimentos reais. O que falta nas pessoas é isso, coragem para viver o que sente, realizar sonhos e acreditar que o amor é possível. Andréa

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  3. Fica o alerta para atentarmos sobre oportunidades perdidas... que não voltam mais. De dizermos algo importante a alguém, como a importancia dele em nossas vidas, de amarmos incondicionalmente, de perdoarmos com sinceridade ou de simplesmente guardarmos o silêncio quando assim convier!! E tudo isso não apenas nos sentimos passionais, mas também nos demais! Cléia

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